segunda-feira, 19 de março de 2012

A UNIÃO DA ALMA COM O CORPO, VALE A PENA LER.



A união da alma com o corpo

 Sabemos hoje que a união da alma ao corpo começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento; essa não foi, porém, a informação veiculada na obra de Kardec nos primeiros anos de codificação do Espiritismo
 
Este artigo é uma breve exposição do desenvolvimento da tese espírita da união entre a alma e o corpo. Tentaremos, em um passeio histórico-doutrinário, levantar informações que possam contribuir com os estudiosos do Espiritismo. 
 
1857

O Espiritismo nasceu em 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos (foto), de Allan Kardec.
Com 501 itens numerados (e centenas de subitens), distribuídos em três partes, a primeira edição deste livro apresentava o seguinte texto sobre o tema:
"86 — Em que momento a alma se une ao corpo?
"Ao nascimento."
— Antes do nascimento a criança tem uma alma?
 
"Não."
— Como vive então?
"Como as plantas." 
Segue o comentário de Allan Kardec sobre este item:
"A alma ou espírito se une ao corpo no momento em que a criança vê a luz e respira. Antes do nascimento a criança só tem vida orgânica sem alma. Ela vive como as plantas, tendo apenas o instinto cego de conservação, comum em todos os seres vivos".
Quando surge, o Espiritismo diz que o momento da união do espírito com o corpo é o nascimento. Na vida intrauterina, como lemos na citação, a criança vive a vida das plantas. 
1860 
Ocorre uma mudança na segunda edição de O Livro dos Espíritos, publicada em 1860, no que diz respeito a isso.
"344. Em que momento a alma se une ao corpo?
“A união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. O grito que então solta anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.” 
Aqui a união não se dá no nascimento, mas se completa nele. É a concepção que demarca o início desta união.
Os Espíritos falam de um laço fluídico que se liga ao corpo e vai se apertando. Esta é a tese que se consagra, pois a veremos em outras obras e, em 1868, ela é desenvolvida com maior detalhamento.
Tudo nos leva crer que essa mudança teórica aparece pela primeira vez na segunda edição da obra citada. Não podemos garantir, pois nas obras em que aparece a segunda tese, editadas antes de 1860, não temos as suas primeiras edições. Todas as edições a que o grupo tem acesso são posteriores ao ano de 1860. Um exemplo é o número de março de 1858 da "Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos".  
1858 
Neste exemplar é publicada a evocação de um Espírito reconhecido como Dr. Xavier. A ele foram feitas diversas questões "psicofisiológicas". 
A introdução da matéria é a seguinte:
"Um médico de grande talento, que designaremos pelo nome de Xavier, falecido há alguns meses, havia-se ocupado muito de magnetismo; deixara um manuscrito, que supunha viesse revo­lucionar a Ciência. Antes de morrer havia lido O Livro dos Es­píritos e desejado um contato com seu autor. A moléstia de que sucumbiu não o permitira. Sua evocação foi feita a pedido da família; e as respostas eminentemente instrutivas, que a mes­ma encerra, levaram-nos a inseri-la nesta coletânea, mas supri­mindo tudo o que era de interesse particular". 
Ao longo da conversação deste Espírito com Allan Kardec lemos o seguinte:
"24. P.— Em que momento se opera a união entre alma e corpo na criança?
R.— Quando a criança respira; como se ela recebesse a alma com o ar exterior.
25. P.— Como, então, explicais a vida intrauterina?
R.— Como a planta que vegeta. A criança vive sua vida animal." 
Esta resposta está conforme a primeira edição, publicada no ano anterior. Em outra resposta o Espírito dá até maiores detalhes desse processo:
"29. P.— A união entre alma e corpo opera-se instantânea ou gradualmente? Isto é, será necessário um tempo apreciável para que tal união seja completa?
R.— O Espírito não entra bruscamente no corpo. Para me­dir esse tempo, imaginai que o primeiro sopro que a criança recebe é a alma que entra no corpo: o tempo em que o peito se eleva e se abaixa." 
No entanto Allan Kardec, ao final do diálogo, deixa a seguinte nota:
"A teoria dada por este Espírito sobre o instante da união da alma ao corpo não é bem exata. A união começa desde a concepção, isto é, desde o momento em que o Espírito, sem estar encarnado, liga-se ao corpo por um laço fluídico, que se vai reforçando cada vez mais, até o nascimento. A encarnação só se completa quando a criança respira (Vide O Livro dos Espíritos, nº 344 e seguintes)". 
Evidentemente esta nota é posterior à publicação da segunda edição de O Livro dos Espíritos, pois o item 344, citado por Allan Kardec, trata deste tema apenas na edição de 1860.
Ocorre que os 12 exemplares anuais da Revista eram encadernados em um volume e vendidos posteriormente. A encadernação que temos à nossa disposição data do ano de 1863. 
1859 
Precisamos citar outro exemplo de edição posterior apresentando essa mudança. A obra "O que é o Espiritismo" é uma obra de 1859, mas possuímos apenas a segunda edição, publicada no ano seguinte, 1860. 
O texto desta matéria:
"116 - Como e em que momento se opera a união da alma e do corpo?
Desde a concepção, o Espírito, ainda que errante, liga-se por um laço fluídico ao corpo que deve se unir. Esse laço se estreita cada vez mais, à medida que o corpo se desenvolve. Desde esse momento, o Espírito é tomado de uma perturbação que vai crescendo sem cessar; na proximidade do nascimento a perturbação é completa, o Espírito perde a consciência de si mesmo e não recobra suas ideias senão gradualmente, a partir do momento em que a criança respira; é então que a união está completa e definitiva." 
Aqui a tese consagrada é apresentada. Resta-nos saber se ela foi acrescentada em 1860, ou já está presente na obra em 1859. 
Um dado digno de nota é: "o Espírito, ainda que errante, liga-se por um laço fluídico ao corpo que deve se unir", isto é, o Espírito, mesmo havendo essa união inicial, ainda está na erraticidade, ainda está no mundo dos Espíritos. 
Algo interessante em O Livro dos Espíritos de 1860 é que o item 86 da primeira edição não é totalmente descartado. A ideia volta desenvolvida, em novo item:
"354. Como se explica a vida intrauterina?
“É a da planta que vegeta. A criança vive vida animal. O homem tem a vida vegetal e a vida animal que, pelo seu nascimento, se completam com a vida espiritual.” 
Na edição de 1857, Os Espíritos respondem a Allan Kardec que a alma se une ao corpo no momento do nascimento. Antes disso, a criança não tem alma. Vive "como as plantas".
Em 1860, os Espíritos transformam sua tese. Agora não é apenas a vida da planta, mas também vive a criança uma "vida animal" e, pelo nascimento, passa a viver uma vida espiritual. Resposta que se ajusta mais à tese definitiva, apresentada no item 344 do mesmo livro. A vida espiritual se dá quando a união se completa. Quando? Ao nascer.  
Voltando a 1860 
Ainda em 1860, temos na Revista Espírita do mês de julho uma observação que dá mais detalhes à tese definitiva sobre a união alma e corpo.   
Allan Kardec faz essa observação ao publicar a evocação da Sra. Duret, "médium escrevente, morta a 1º de maio de 1860, em Sétif, Argélia. Evocada primeiro em casa do Sr. Allan Kardec, a 21 de maio, depois a 25, na Sociedade". 
A observação:
"Sabe-se que, no momento da concepção, o Espírito designado para habitar o corpo que deve nascer é tomado por uma perturbação, que vai crescendo à medida que os laços fluídicos, que o unem à matéria, se apertam, até as proximidades do nascimento. Neste momento, perde igualmente toda a consciência de si mesmo e não começa a recobrar as ideias senão no momento em que a criança respira. Só então é que se torna completa e definitiva a união entre o Espírito e o corpo". 
Em 1861, Allan Kardec publica “O Livro dos Médiuns: ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores". O seu capítulo 25, intitulado "Das Evocações", apresenta o seguinte item:
"51ª - Pode evocar-se um Espírito cujo corpo ainda se ache no seio materno?
“Não; bem sabes que nesse momento o Espírito está em completa perturbação.”
Nota. A encarnação não se torna definitiva senão no momento em que a criança respira; porém, desde a concepção do corpo, o Espírito designado para animá-lo é presa de uma perturbação que aumenta à medida que o nascimento se aproxima e lhe tira a consciência de si mesmo e, por conseguinte, a faculdade de responder. 
Aqui vemos que, mesmo não sendo definitiva a reencarnação, o Espírito experimenta uma perturbação que vai se intensificando até o nascimento.  
1864 
Em 1864, em O Evangelho segundo o Espiritismo, Santo Agostinho parece mostrar uma variação da tese:
"Por fim, após anos de meditações e preces, o Espírito se aproveita de um corpo em preparo na família daquele a quem detestou, e pede aos Espíritos incumbidos de transmitir as ordens superiores permissão para ir preencher na Terra os destinos daquele corpo que acaba de formar-se". 
Aqui o Espírito reencarnante parece procurar um corpo. No início do texto citado, poderíamos afirmar que o "corpo em preparo" não foi concebido ainda. Que ele estaria em via de existir, pois tudo indicava, pelo desejo dos pais, que a concepção logo aconteceria. No entanto o final da frase deixa bem clara a ideia: o corpo "acaba de formar-se" e o Espírito pede permissão para preenchê-lo. 
Isso não derruba a tese anterior, somente dá um outro ponto de partida à união. Não encontramos essa variante em nenhuma outra obra de Allan Kardec. 
1868 
Por fim, o ano de 1868, com a publicação de "A Gênese: os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo", vemos uma explicação mais detalhada e demorada do objeto da primeira parte de nosso texto: a união da alma com o corpo:
"18. – Logo que o Espírito deva se encarnar num corpo humano em via de formação, um laço fluídico, que não é outro senão uma expansão do perispírito, o amarra ao germe sobre o qual ele se encontra lançado por uma força irresistível desde o momento da concepção. À medida que o germe se desenvolve, o laço se aperta; sob a influência do princípio vital material do germe, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, une-se molécula a molécula com o corpo que se forma; de onde se pode dizer que o Espírito, por intermédio de seu perispírito, toma, de alguma forma, raiz neste germe, como uma planta na terra. Quando o germe está inteiramente desenvolvido, a união é completa e, então, ele nasce à vida exterior". 
Neste detalhamento da tese percebemos o uso de termos que, mesmo presentes no conjunto de ideias espíritas, somente agora são usados para completar a explicação. Recordemos. O Espírito se liga através de um laço fluídico que vai se apertando até o nascimento e é nele que se completa a união com a matéria. O Espírito vai entrando numa perturbação que o faz perder a consciência de si mesmo. É com o nascimento que ele recobra a consciência espiritual. 
Agora temos mais condições de responder alguns questionamentos. 
1. Que laço fluídico é este?
Uma expansão do perispírito. 
2. O que esse laço faz?
Amarra o Espírito ao germe sobre o qual ele se encontra lançado por uma força irresistível desde o momento da concepção. 
3. Como se dá essa união?
Molécula a molécula. 
4. Por que essa união molecular é possível?
Porque o perispírito possui certas propriedades da matéria. 
5. O que faz essa união ser completa?
O completo desenvolvimento do germe, ou seja, a formação total do corpo a ser usado pelo reencarnante. 
  

FONTE: O CONSOLADOR

Nenhum comentário:

Postar um comentário